Profissão: Masculino curado

eu não sou/direita ou esquerdista/social ou comunista/
sou do partido do artista/que respeita ponto de vista/

contra o egoísta/e o capitalista/onde ser feliz está na lista/
como verdade e missão/de quem diariamente/reverencia são Jorge/
mas antes salva o dragão.

– Marina Mara

Tratava-se de lançamento de livro – espantosamente, ainda há nos dias de hoje pessoas que insistem em se lançar à tarefa de  escrever naquela coisa que fica de pé na estante e tem lombada. A corajosa, não fosse ela poeta, e das boas, é a autora dos versos consignados na epígrafe e que constam da obra vinda à luz neste mês das noivas… e dos noivos.

O produto – Profissão Poeta  Um guia prático e amoroso sobre viver de poesia – foi vendido num sarau acontecido no dia 3. Quem disse “vendido” se equivocou. Os escritos restaram interpretados. As atuações da noite enriqueciam os capítulos do interessante livreto de 74 páginas, entre os quais: Poesia e arte urbana, Doula poética, A página do Poeta, Poesia na internet, Marketing poético.

“Apanhei” muito das mulheres nos últimos tempos, inclusive em surras de despertar amores platônicos (ou não). Pouco sobrou de mim. No que ficou, e vivendo a ilusão de que ser homem bastaria, juntei forças e parti para me empoderar.

Realmente. Nesse evento, no Objeto Encontrado, café cheio de charme na quadra 102 Norte, festa e poesia, recebi de um dos performáticos, William Alves Faria, cineasta e amigo do Mapati, um folheto de propaganda. Era de um curso ministrado pela Ana Terazu (a princípio, o nome me assustou).

Já participei de quase todas as aulas e estudei muito, devendo ser aprovado com algum louvor, màxime porque, para minha afirmação, não mais preciso causar com o abismo entre gerações nem com o endeusamento da preferência nacional.

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O MASCULINO CURADO

Um masculino curado é aquele que com muita coragem, conseguiu resgatar a essência do feminino sagrado dentro de si, e por isso consegue honrar e proteger o feminino que se manifesta fora, na forma de mulher, na forma da Mãe Terra.

Mesmo já tendo nascido com suas camisas de futebol e jogos de lutinha, estes homens decidem conscientemente ser ou não competitivos, pois compreendem os princípios da irmandade, da cooperação e respeito.

Mesmo que durante toda a sua vida tenham visto o corpo da mulher sendo propaganda de todo tipo de produto (de carro a cerveja), não escolhem suas parceiras pela medida do silicone, pelos músculos definidos do abdome ou por uma bunda perfeita… mas pelo gosto, pelo cheiro, pelo ritmo, pela frequência e conexão da alma, mente e coração.

Mesmo que a pornografia tenha regido os primeiros movimentos desta sexualidade, o masculino curado já não mais se alimenta de uma psicogênese de fantasias, mas sim de verdadeiras sensações, o que permite que ele realmente se empenhe em conhecer seu corpo e o corpo de uma mulher.

Ao se relacionar intimamente, o Masculino Curado se aceita vulnerável; mesmo que “homem não chore”, este é capaz de entrar em contato com suas emoções, é capaz de externalizar o que sente e de receber os processos internos de outros.

Assim, é totalmente auto responsável na cura e manutenção de suas relações.

Estes homens, ao terem filhos, sabem que o cuidado não é de exclusividade da mãe; mesmo tendo tido uma infância de carrinho para meninos e bonecas para meninas.

Ao ver sua mulher parideira, o masculino curado honra e admira ainda mais sua parceira, mesmo que tenham dito a ele que a medicina faz o trabalho mais bem feito.

Mesmo não tendo sido estimulados a se conectar com a Mãe Terra, estes homens são cuidadores, prezam pela sustentabilidade, pelo consumo consciente.

Por conhecer da Mãe Terra, se tornam capazes de honrar e respeitar os movimentos cíclicos das mulheres.

Compreendem os ciclos de impermanência da vida, desenvolvendo consciência, estabilidade e equanimidade em seus processos.

Compreendem seus próprios ciclos de vida; assumindo seus papéis e as responsabilidade de cada novo momento.

Indo além da ditadura da juventude, este homem cíclico se permite também envelhecer; não precisa de mulheres mais jovens e nem de carros maiores. Ele sabe o momento de se retirar, e sabe de sua importância como pilar de manutenção da sabedoria na família e em toda a sociedade.

Eu honro e me curvo diante deste masculino sagrado, que se cura, que tanto se arrisca a reinventar-se, a criar uma nova história, a romper as crenças e padrões.

E convido a todas as mulheres a fazerem o mesmo, abrindo espaço e dando coragem para que estes amigos, filhos, pais e companheiros possam se redescobrir dentro desta sociedade… de homens e mulheres patriarcais.

(Ana Terazu)

24/05/2017

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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